Total de visualizações de página

sábado, 31 de dezembro de 2016

O Anjo da Morte - por Agente Eleven

O homem estava sentado no banco da praça. Quem o visse diria que estava observando a paisagem. As crianças brincando ou comendo algodão doce, uma senhora dando pão para os pombos, alguns casais apaixonados. Mas para ele nada disso interessava mais. Tudo se tornou monótono e entediante. Nada mais desperta sua admiração ou curiosidade. Seus olhos apenas fitam o horizonte sem foco. Vazio. Era assim que ele se sentia.  Como se após tanto tempo de existência ele já tivesse absorvido tudo que poderia. E agora estava sem propósito.
Todos que ele amava se foram. Cumpriram sua missão e partiram. Seus ciclos se completaram. Apenas ele ficava para trás. Não sabia dizer se isto era uma benção ou maldição. Mas havia se tornado um grande fardo. Ele não conseguia entender o que aconteceu. Era como se a Morte simplesmente tivesse se esquecido dele.
Não muito longe dali duas criaturas conversavam. Não precisavam se preocupar em ser incomodados pelas pessoas da praça. As criaturas eram invisíveis para os olhos mortais.
- Você não percebe o quanto isto é errado? O quanto vai contra a ordem das coisas? Não vai consegui manter por muito tempo. Vão perceber que algo está errado. Se é que já não perceberam.
- Mas por que me foi dado tamanho fardo? Por que tem que ser eu á cumprir tão triste missão?
- Não sei. Só sei que cada um tem  missão. Uma contribuição para o complexo funcionamento do cosmo.
- Pra você é fácil falar. Você é um Anjo da Guarda. Tem a missão de cuidar das pessoas. As pessoas gostam de você e se sentem bem com sua presença. Já á mim, um Anjo da Morte, foi me dada a terrível tarefa de por um fim á existência deles. Por que não pude ter uma missão nobre como você? Eu me recuso á continuar fazendo este trabalho.
O Anjo da Guarda não disse nada. Ficou refletindo por um momento. Então após algum tempo finalmente falou.
- Você não compreende mesmo. Não vê quão nobre é a sua missão. Uma vez cumprida sua missão a alma anseia pela liberdade. Assim como a borboleta ela precisa sair do casulo. Como uma semente lançada na terra ela precisa romper sua casca para ver a luz do dia. Mas não é o fim. A vida recomeça mas de maneira diferente.
- Mas aquela pessoa especifica deixa de existir. Aquela existência desaparece.
- Se engana outra vez. Aquela pessoa continuará a existir em fragmentos através das obras que criou e deixou para trás. Das pessoas que conheceu. Das mudanças que causou. Ninguém passa despercebido e ninguém deixa de existir definitivamente. O legado pode ser imortal. Assim a alma pode partir em paz por ter cumprido sua missão. E aqueles que te temem ou não gostam de ti são tolos que não entendem as funções mais básicas do universo. Sem um fim, não há recomeço. E tudo fica estagnado. Olha só para ele. Vazio. Sem propósito. Sua alma anseia a liberdade.
Agora foi a vez do Anjo da Morte ficar pensativo. Se sentia diferente. Como se tivesse tirado um grande peso das costas.
- Eu agora compreendo.
                                                      --------------------------------------
O homem deitado em sua cama. Sentiu uma presença se aproximar. Nem todos sente os Anjos da Morte chegarem, mas algumas pessoas conseguem inclusive vê-los.
- Você. Veio me levar¿
- Sim.
- Eu estava te esperando.

O homem então sorriu. Sua missão estava cumprida um ciclo finalmente fechou. Era hora de seguir em frente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário