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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

CONFLITOS E MAGIA


Texto e Ilustração: Adilson CTS

  Mérelin abriu os olhos e contemplou a entrada do corredor escuro a sua frente. Finalmente, após anos de estudo e muito treinamento, conseguira entrar naquele plano de existência onde a magia dominava tudo ao seu redor.
  Percebeu que havia uma lanterna em sua mão direita. Ela a ergueu e a luz da vela iluminou o seu caminho, então ela entrou no corredor. Caminhava devagar enquanto observava atentamente as paredes de alvenaria a sua volta. Logo o corredor dividiu-se em dois caminhos e ela ficou parada, ponderando sobre qual deles deveria seguir. No mundo onde Mérelin vive muitas pessoas possuem aptidões mágicas, mas tornar-se um mestre da magia, como ela almejava, era um feito para poucos.
Decidiu ir pelo caminho da direita. Caminhou pelo que parecia uma eternidade, até que a luz da lanterna revelou uma porta de ferro no final do corredor. Mérelin observava a porta enquanto decidia se devia abri-la ou voltar para o outro corredor. Atrás dessa porta poderia estar o seu triunfo, mas se fizesse uma escolha errada agora, anos de sacrifício e dedicação iriam se perder em apenas um segundo.
  O medo do fracasso começou a toma-la aos poucos, e de repente ela percebeu que as paredes começaram a fechar-se em sua direção. Mérelin colocou as mãos nelas e tentou segura-las, sem sucesso. Então ela percebeu que a dúvida estava enfraquecendo sua mente.
Suas mãos começaram a brilhar com a sua magia e ela foi capaz de empurrar as paredes para longe de si. Fechou os punhos e correu em direção a porta com convicção, empurrando-a com toda sua força. A porta abriu-se e uma forte luz ofuscou seus olhos.
  Mérelin entrou na sala com os olhos fechados, mas aos poucos eles foram acostumando-se com a luz e então ela foi capaz de ver uma criança que estava ali dentro. Observando melhor, a jovem percebeu que não era uma criança comum: era ela mesma.
  Logo Mérelin entendeu que a criança representava seu passado. Sua infância, para ser mais exata. Aproximou-se devagar enquanto era encarada pela garotinha. Abaixou-se diante dela e ergueu a mão. A criança fez o mesmo enquanto olhava fixamente em seus olhos, observando a parte mais profunda de sua alma. Quando seus dedos se tocaram, uma grande ferida parecia ter sido aberta na jovem. Uma dor antiga e aguda retornou subitamente.
  Mérelin experimentou novamente, com a mesma intensidade de uma criança de sete anos, a dor que sentira quando seu pai deixou sua casa e partiu para viver aventuras, onde encontrou o seu fim, deixando ela sozinha com uma mãe amargurada.
  Mesmo sofrendo muito ao reencontrar uma parte de si mesma que havia renegado, Mérelin sentia-se completa. Era difícil aceitar aquela parte frágil novamente depois de rejeita-la durante todos esses anos. As duas caminharam juntas até uma porta de madeira do outro lado da sala.
Mérelin abriu a porta e deparou-se com um lindo jardim. Caminharam algum tempo por ele, encantadas, até encontrarem um unicórnio branco. Montado nele estava o homem que ela amava.
  - Olá Méri – disse ele descendo do animal e aproximando-se dela, sorrindo.
  - O que está fazendo aqui? - indagou Mérelin, esquecendo por um momento que ali tudo era possível.
  - Vim busca-la – respondeu o homem. – Finalmente percebi o quanto você é importante para mim.   Uma lágrima correu pelo rosto de Mérelin. Sempre quis ouvi-lo dizer aquelas palavras para ela, mas tudo que conseguia era sua indiferença. No fundo sabia que aquilo não era real, mas naquele plano de existência a magia estava em tudo, e a ilusão ou a realidade eram um mero detalhe.
Ele acariciou o rosto da jovem e ela pode sentir todo o amor e carinho que sempre procurou naquele homem. Ela segurou a mão dele, fechou os olhos e desejou do fundo do seu coração que aquele momento durasse para sempre.
  - Vem comigo – disse ele sorrindo. – Podemos ir nós dois no meu unicórnio.
  - Só nós dois? indagou Mérelin olhando para a garotinha.
  - Sim – respondeu o homem. – Você pode ter o que deseja agora mesmo, basta vir comigo.
  Outra lágrima rolou pelo rosto de Mérelin. Ela pegou uma adaga em sua cintura e perfurou o coração do homem. Enquanto ele caia e agonizava, ela percebeu que abrira mão dos seus desejos por algo muito maior.
  Correu até a garotinha e abraçou ela com todas as suas forças. Nesse momento um portal mágico surgiu diante delas. As duas sorriram e atravessaram ele juntas, de mãos dadas.
  Mérelin abriu os olhos. Uma compreensão maior tomou conta dela. Antigas questões para as quais nunca encontrara respostas antes subitamente esclareceram-se e todas as suas dúvidas desapareceram. Atordoada, a jovem demorou algum tempo para perceber que seu mentor a observava, satisfeito. 


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